Tal como anteriormente anunciado pela minha cara sócia blogueira, um trabalho nosso - que acreditamos ser um retrato fiel do emprego (ou falta dele!) em Portugal - foi publicado no suplemento de 30 de Junho do Jornal Sem Mais, ele próprio suplemento do Jornal Expresso. Como não queremos que falte nada aos nossos poucos mas fiéis leitores, publico em baixo o dito texto, acompanhado da brilhante ilustração da outra mente genial que alimenta este blogue. Optámos por criticar sem cair na mesquinhice. Sendo nós pessoas muito de bem com a vida - mesmo que esta insista em chicotear-nos o rabiosque - decidimos fazer uma sátira da tristeza económica/profissional em que estamos mergulhadas. Esperemos que gostem e aguardamos as vossas críticas construtivas, bem como sugestões de temas para artigos futuros. Sem mais demoras, segue em baixo o dito artigo!
Este país não é para jovens. Pelo menos não para jovens que desejem sentir-me realizados profissionalmente e ter o mínimo de independência, o mínimo de desafogo. Tal como recentemente noticiado (denunciado?) em vários órgãos da comunicação social, ao abrigo do programa Estímulo 2012, várias empresas estão a (tentar) contratar licenciados em troca do salário mínimo (ou pouco mais que isso, para que não pareça tão mal).
- Olha, finalmente encontrei estágio em Arquitetura!
- A sério? Quando começas, quais são as condições? Conta tudo!
- Começo para a semana. O horário é flexível, tenho é de fazer umas 10 horas por dia, pelo menos. Pagam o salário mínimo.
- Ah... O. K.
- Pois...
Muitos defendem que «é melhor pouco que nada», e é essa falta de autoestima laboral que nos trouxe (arrastou?) até onde estamos hoje. Qualquer licenciado que que tenha investido tempo, dedicação e dinheiro na sua edução não pode senão ferver por dentro quando lhe atiram umas migalhas, enquanto tentam convencê-lo que aquilo é tudo o que merece em troca de tudo quanto sacrificou.
- Então, que tal corre o trabalho?
- O anúncio dizia “trabalho”, mas é mais estágio. Pagam subsídio de alimentação e transporte.
- Ah... O. K.
- Pois...
Também há quem critique aqueles que abraçam a precariedade laboral. Tais críticos claramente nunca devem ter sentido a pressão de ter filhos para alimentar e contas para pagar. Ter princípios é bonito, mas não põe comida na mesa. É indecente que as empresas se aproveitem da fragilidade económica para explorar aqueles que realmente não podem estar sem receber um salário - por mais baixo que este possa ser. Mais indecente se torna esta realidade quando acontece não só sobre as barbas do nosso governo, como com a sua concordância, dado que se limita a encolher os ombros e deixar acontecer.
- Então e como estás a fazer com as despesas da casa?
- Não estou. Tive de voltar para casa dos meus pais…
- Então… Mas isso implica duas horas e tal de transportes por dia!
- É verdade… Já levei duas reprimendas, porque houve dois dias que cheguei atrasada, por causa das greves….
Como é que este governo pretende impulsionar o emprego e o empreendedorismo se cada medida anunciada parece um prego no caixão onde jaz aquilo que em tempos foi a ambição dos seus jovens? Como é que é possível combater o insucesso escolar tendo em conta a galopante taxa de recém-licenciados desempregados? E depois ainda nos querem “vender” a preço de saldo. Como se fôramos sobras irrelevantes.
- Acabou o estágio? Pediram-te que ficasses?
- Não, precisam de alguém com carta de condução. Eu ainda não consegui terminar a minha, porque não me pagavam o suficiente. Havia despesas mais prioritárias!
- Ah... O. K.
- Pois...
Parece que por mais que nos esforcemos, não chegamos a lado nenhum. Não é lá muito inteligente atiçar uma colmeia, e é isso que o governo tem vindo a fazer. Há de chegar o dia em que as abelhas irão atacar para defender a sua casa. Ou então a colmeia cairá no chão, vazia: sai mais barato comprar um bilhete de avião que pagar a renda.
* Os diálogos aqui reproduzidos não possuem os nomes dos intervenientes dado os mesmos têm vergonha de admitir que vivem num país que não protege, não apoia e ainda explora os seus jovens!
- Olha, finalmente encontrei estágio em Arquitetura!
- A sério? Quando começas, quais são as condições? Conta tudo!
- Começo para a semana. O horário é flexível, tenho é de fazer umas 10 horas por dia, pelo menos. Pagam o salário mínimo.
- Ah... O. K.
- Pois...
Muitos defendem que «é melhor pouco que nada», e é essa falta de autoestima laboral que nos trouxe (arrastou?) até onde estamos hoje. Qualquer licenciado que que tenha investido tempo, dedicação e dinheiro na sua edução não pode senão ferver por dentro quando lhe atiram umas migalhas, enquanto tentam convencê-lo que aquilo é tudo o que merece em troca de tudo quanto sacrificou.
- Então, que tal corre o trabalho?
- O anúncio dizia “trabalho”, mas é mais estágio. Pagam subsídio de alimentação e transporte.
- Ah... O. K.
- Pois...
Também há quem critique aqueles que abraçam a precariedade laboral. Tais críticos claramente nunca devem ter sentido a pressão de ter filhos para alimentar e contas para pagar. Ter princípios é bonito, mas não põe comida na mesa. É indecente que as empresas se aproveitem da fragilidade económica para explorar aqueles que realmente não podem estar sem receber um salário - por mais baixo que este possa ser. Mais indecente se torna esta realidade quando acontece não só sobre as barbas do nosso governo, como com a sua concordância, dado que se limita a encolher os ombros e deixar acontecer.
- Então e como estás a fazer com as despesas da casa?
- Não estou. Tive de voltar para casa dos meus pais…
- Então… Mas isso implica duas horas e tal de transportes por dia!
- É verdade… Já levei duas reprimendas, porque houve dois dias que cheguei atrasada, por causa das greves….
Como é que este governo pretende impulsionar o emprego e o empreendedorismo se cada medida anunciada parece um prego no caixão onde jaz aquilo que em tempos foi a ambição dos seus jovens? Como é que é possível combater o insucesso escolar tendo em conta a galopante taxa de recém-licenciados desempregados? E depois ainda nos querem “vender” a preço de saldo. Como se fôramos sobras irrelevantes.
- Acabou o estágio? Pediram-te que ficasses?
- Não, precisam de alguém com carta de condução. Eu ainda não consegui terminar a minha, porque não me pagavam o suficiente. Havia despesas mais prioritárias!
- Ah... O. K.
- Pois...
Parece que por mais que nos esforcemos, não chegamos a lado nenhum. Não é lá muito inteligente atiçar uma colmeia, e é isso que o governo tem vindo a fazer. Há de chegar o dia em que as abelhas irão atacar para defender a sua casa. Ou então a colmeia cairá no chão, vazia: sai mais barato comprar um bilhete de avião que pagar a renda.
* Os diálogos aqui reproduzidos não possuem os nomes dos intervenientes dado os mesmos têm vergonha de admitir que vivem num país que não protege, não apoia e ainda explora os seus jovens!
1 comentário:
Está tão difícil, vivemos com a corda na garganta.
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